O OBSERVADOR ROMANO




Capitulo Um – Lucius Petronius


Seu nome era Lucius Petronius. Era um dos mais jovens, senão o mais jovem dos senadores do Império Romano. Em Roma chegavam relatos de grandes agitações na Judeia. Diziam que havia surgido um profeta, que se dizia filho de Deus, e suas palavras estavam pondo ideias na cabeça do povo. Era um revolucionário? Um louco? Um verdadeiro profeta? Para saber disso, o Senado decidiu mandar um dos senadores como observador.
A viagem era longa e um homem mais jovem do que a maioria dos senadores eram, seria o mais indicado. Então, por votação, nomearam Lucius Petronius , o mais jovem senador, com 35 anos. Geralmente os senadores eram mais velhos, acima de 45 anos, mas Lucius era um herói de várias batalhas e por ter sido ferido várias vezes foi afastado do exército com honras.
Ele havia sido um Tribuno Militar comandara algumas Legiões em combates. Fora ferido em diversas batalhas e foi afastado por isso, vindo a ser eleito senador, pois era sobrinho de um velho senador, que o apresentou aos colegas. Como demonstrou ser leal ao Império e muito inteligente, e sendo de descendência nobre, foi aceito, nomearam-no senador suplente para assumir no caso da aposentadoria ou morte de seu tio.
Lucius viu uma grande oportunidade de se promover politicamente com a missão e foi com grande satisfação que aceitou a missão. Por ter sido Tribuno, estava acostumado a grandes jornadas em liteira ou mesmo no lombo de cavalos e até a pé. Foi realmente uma viagem exaustiva e Lucius concluiu que o Senado acertou em nomeá-lo, pois os velhos senadores não aguentariam a viagem.
Foi levado de liteira até Trieste, onde embarcou num Trireme, embarcação movida a remo por escravos, leve e muito usada para essas viagens com poucos homens.
A travessia do Mediterrâneo foi tumultuada, pois enfrentaram tempestades. Chegando na Judéia, o transporte passou a ser feito em lombo de camelos, debaixo de um calor infernal, tempestades de areia, pouca agua. Quando chegou em Jerusalém, Lucius tomou um banho demorado, se alimentou adequadamente e dormiu muitas horas. Como chegou durante a noite, dormiu no alojamento dos Centuriões, comandantes das Centúrias, que eram um pelotão de 100 legionários.
No dia seguinte, já de tarde, foi recebido no palácio do governo pelo Governador Poncio Pilatos e sua mulher Cláudia Prócula, que lhe deram uma recepção digna de um senador. Na recepção foi apresentado a uma jovem de grande beleza, muito branca, de cabelos avermelhados e olhos tão azuis como o céu de primavera.
Chamava-se Miriam e era filha de Levi e Ruth. Levi era um grande mercador judeu e fornecedor dos romanos. Lucius ficou impressionado com Miriam.




Capitulo Dois – Miriam e Prócula

No banquete que lhe foi oferecido, Lucius viu belas serviçais, mulheres de pele morena, mais escuras do que as morenas romanas, que eram de pele branca de olhos e cabelos pretos. As mulheres que ele via no banquete tinham a pele da cor que ele só vira nas escravas. E os serviçais masculinos também eram belos e morenos. Imaginou ficar um tempo por ali e se divertir com esses jovens palestinos.
Depois do banquete foram para uma sala mais reservada, onde Lucius teve oportunidade de conversar com Miriam. Ficou impressionado com a beleza dela, sua delicadeza e sua fragilidade. Achou que ela tinha algum problema de saúde, mas não seria delicado perguntar. Ela era inteligente e bem informada das coisas de Roma. Disse que já tinha ido lá com os pais, mas, a viagem foi muito cansativa e ela precisou de vários dias para se recuperar. Lucius deu razão a ela quanto a isso ! 
Pilatos ordenou que preparassem um quarto onde Lucius se instalaria pelo tempo que ficasse lá e mandou buscar suas coisas no alojamento dos Centuriões. Lucius ficou encantado com a esposa de Pilatos, Cláudia Prócula, muito meiga e educada; e ótima anfitriã.
Depois as mulheres se retiraram para outro aposento e os homens ficaram discutindo coisas importantes do mundo dos homens. Lá estavam, Lucius, Pilatos, Levi, seu cunhado Samuel e dois centuriões, Titus e Romulo. Assim que as mulheres saíra, entraram dois típicos palestinos, vinham a pele morena típica dos palestinos. Lucius se espantou quando eles começaram a falar em latim fluentemente.
Descobriu que eram soldados romanos, designados por Pilatos para viverem infiltrados no meio do povo, para identificarem possíveis ameaças aos romanos. Seus nomes como palestinos eram Yussef e Samir.  Lucius ouviu pela primeira vez, relatos sobre o profeta que estava agitando o povo da região. Ficou sabendo que se chamava Jesus, era filho do carpinteiro José e de uma boa mulher chamada Maria.
Soube que era dotado de grande inteligência e falava tão bem ou melhor do que qualquer sábio do templo e talvez melhor que um senador romano [se isso era possível!]. Lucius sorriu, pois achava impossível algum ser humano falar melhor do que um senador romano, cuja retórica era indiscutivelmente a melhor do mundo !  Ainda mais o filho de um carpinteiro e uma dona de casa, sem estudo nenhum ! Ele devia ser um malandro cheio de lábia, isso sim.

Capitulo Três – O Profeta

Os soldados infiltrados continuaram seu relatório. Levi e Samuel ouviam muito atentamente, pois tinham interesse no assunto. Se houvesse agitação é possível que seus negócios fossem prejudicados. Eles negociavam muitos produtos que vinham de caravana pelo deserto e se houvesse revolução, haveria assaltos às caravanas, saques e sequestros, enfim...
Os seguidores do profeta estavam aumentando dia a dia. Suas ideias estavam encantando os mais humildes que o seguiam. Alguns proprietários também ouviam suas pregações. Diziam até que ele tinha feito milagres: um cego voltou a enxergar, um aleijado voltou a andar.... Diziam até que ele trouxe um morto, Lázaro, de volta à vida! Impossível!
Pilatos mandou os dois infiltrados se lavarem, comerem e continuarem o bom trabalho que estavam fazendo.!  Lucius achou que devia ver de perto esse tal de Jesus. Yussef e Samir disseram que era preciso muito cuidado, pois o profeta tinha um grupo grande de homens que o seguiam e um grupo de guarda costas que se intitulavam Apóstolos!
Lucius era destemido, havia sido um Tribuno, comandou várias legiões e não tinha medo de nada. Como não tinha cortado os cabelos, que cresceram durante a viagem e só teve aparada a barba por um barbeiro dos centuriões, para se apresentar no palácio, foi fácil se disfarçar. Ele tinha cabelo e barba pretos, era moreno claro, mas a viagem pelo deserto tinha escurecido sua pele.
No dia seguinte vestiu uma túnica surrada, um turbante, sandálias iguais às do povo e foi procurar o profeta.
Achou-O em cima de uma pedra, embaixo de uma árvore e uma multidão em sua volta. As pessoas Lhe faziam perguntas que Ele respondia com uma paciência infinita, como se estivesse falando com crianças. De repente, levantou-se, olhou para Lucius, que estava sentado o meio da multidão e caminhou em direção a ele. Lucius ficou paralisado e pensou: “agora esse homem me descobriu, sabe que sou romano e eu vou ser morto.
Na sua cabeça, Jesus estava preparando a massa humana para fazer uma revolução e ele era o inimigo. Se preparou para levantar e fugir, mas o Homem o olhava de uma forma tão penetrante, tão tranquila que Lucius se sentiu estranhamente seguro.
O Homem parou na sua frente, ele era alto, muito sereno e sempre sorrindo estendeu a mão tocou o topo de sua cabeça. Lucius sentiu como se tivesse recebido uma descarga de energia. Todas as dores que sentia dos vários ferimentos das inúmeras batalhas, todo cansaço da longa viagem que fez e até uma ulcera crônica que tinha há anos, desapareceu ! Assim do nada ! Como era possível ! Aquele Homem mal tocou sua cabeça ! Quem era Ele afinal !


Capitulo Quatro - Miriam

Lucius ficou impressionado! Achou que precisava estudar melhor aquele Profeta. Ficou mais um tempo por ali, já mais à vontade pois todos a sua volta viram o Mestre toca-lo, então ele era um deles. Viu Samir e Yussef por ali, mas, fez de conta que não os conhecia e eles fizeram o mesmo. Voltou ao palácio do governo, tomou um banho e resolveu ficar de barba e com os cabelos um pouco compridos para poder manter o disfarce.
Cláudia Prócula tinha um recado de Levi e Ruth, convidando-o para jantar com eles. Lucius gostou muito da ideia de ir ver Miriam mais uma vez.
Miriam era filha única e desde pequena sempre foi frágil. Seus pais a cercavam de muito carinho e atenção, pois sabiam de sua fragilidade. Tinham-na levado a Roma e os médicos disseram que ela tinha sangue fraco e devia evitar o sol, que na Judeia era muito forte.
Lucius foi animado para o jantar. Conversaram bastante durante o jantar, depois os pais deixaram os jovens irem para a varanda. Conversaram como se se conhecessem há muito tempo. Miriam estava no começo um pouco tímida, mas, aos poucos foi se soltando. Num determinado momento, sentiu um pouco de frio, e Lucius percebendo isso, tirou a túnica, pondo sobre os ombros dela, gentileza que a conquistou mais. Contou que vira de perto o Profeta e percebeu que os olhos dela brilharam.
Miriam, avidamente quis detalhes de tudo, e Lucius contou do toque na sua cabeça. De imediato ela pôs a mão na cabeça dele e levou a mão à boca, beijando-a, como se quisesse absorver aquele toque do Mestre. Lucius ficou impressionado com a sensibilidade dela. De repente ela perguntou se o Profeta a tocaria também, e se tocasse ela ficaria curada da fragilidade crônica que sentia. Ele olhou para ela e disse que não sabia, pois nem entendeu o que aconteceu com ele.


Capitulo Cinco – A Cura de Miriam

Quase todas as noites Lucius e Miriam se viam, ou num jantar na casa dela, ou no palácio do governo! Ele continuava a colher informações sobre Jesus, com os soldados, o que ouviam do povo. Uma noite comentou com Miriam que o Profeta estava nas imediações da cidade e ele estava pensando em ir ouvi-Lo, para saber se ia falar contra o governo romano.
Na manhã seguinte, vestiu sua túnica surrada, turbante e saiu da cidade. Não notou que um vulto encapuzado saiu logo depois dele. Depois de meia hora de caminhada, ele percebeu que estava sendo seguido. Apertou o passo e depois de subir um pequeno morro, notou que o vulto ficara muito para trás. Ao passar por umas pedras, se escondeu atrás de uma delas e esperou, com a adaga na mão, para surpreender o vulto e saber quem era e por que o estava seguindo.
Como seu seguidor estava demorando, arriscou olhar para traz da trilha e viu o vulto caído no chão. Pensou numa cilada, e cautelosamente, caminhou em direção a ele sempre com a adaga na mão, e qual não foi sua surpresa ao ver que o vulto em questão era uma mulher, pois o capuz tinha caído e revelou seus cabelos ruivos. Virou-a e surpreso viu que era Miriam!
Ela estava mais pálida do que o normal e Lucius levou-a até a sombra de uma arvore, deu-lhe água e perguntou que loucura era aquela, e que iria leva-la de volta para casa. Ela disse que não e implorou que ele a levasse junto para conhecer o Profeta. Depois de muita conversa, Lucius aquiesceu e a levou, mas, só depois que viu que ela estava bem.
Caminhou mais devagar para ela não se cansar. Chegaram no local da pregação de Jesus, onde já se encontrava uma multidão, esperando a chegada do Mestre. Ele veio vindo calmamente, seguido dos Apóstolos e foi passando no meio da multidão, distribuindo bênçãos, afagos... Passou ao lado de Lucius e Miriam. Estacou, voltou-se e viu Lucius, sorriu para ele e veio em direção a ele, mas parou, na verdade em frente à Miriam. Disse algumas palavras a ela em uma língua que ela não conhecia e lhe estendeu as duas mãos.
Miriam timidamente pegou a mão de Jesus, e desfaleceu. Lucius tentou ampará-la, mas o Profeta se adiantou e tomou Miriam nos braços, carinhosamente e a fez sentar ao lado de Lucius, ajoelhou-se, tirou-lhe o capuz, colocou sua mão sob o queixo dela, levantou sua cabeça e fez com que ela olhasse para o sol. E disse em hebraico, língua que ela conhecia, “filha aquela estrela é criação de Deus e dela virá a sua cura, você deve receber essa luz todos os dias e você ficará curada”.
Ele sabia que aquilo que os médicos diziam que era sangue fraco, nada mais era do que deficiência de vitamina D, pois ela nunca tomava sol, por receio de seus pais por ela ter a pele muito branca. Com a cabeça descoberta, Miriam sentiu o calor do sol inundá-la e esquentar seu corpo. Nisso o Mestre colocou a mão na sua cabeça e ela sentiu que adquiriu uma energia que nunca tivera e lágrimas de gratidão e amor correram por usa face.
Ele sorriu para ela e continuou andando no meio do povo. Depois de ouvirem Jesus pregar e não dizer uma palavra sequer contra o governo, voltaram para casa. Miriam com a alma leve, feliz por ter sido tocada pelo Mestre e Lucius perturbado, pois não via nenhum ato ou palavras revolucionárias, somente palavras de amor.

Capitulo Seis – Condenado!

Com o crescente aumento dos adeptos de jesus, Roma começou a inquietar-se. Lucius mandou mensageiros levarem notícias da situação que a seu ver não havia risco de revolução, uma vez que o Profeta só pregava amor. Mas assim não viam os sacerdotes, liderados por Caifás, que vendo o perigo das ideias do Profeta, que iam de encontro aos seus interesses, principalmente depois que Ele invadiu o templo e destruiu as barracas de mercadores, dizendo que a sinagoga era lugar de oração e meditação, não de comércio.
O Sinédrio era uma assembleia de anciãos judeus da classe dominante que por concessão de Roma tinha um certo poder sobre a sociedade judaica. Os principais sacerdotes e os fariseus ajuntaram o Sinédrio e começaram a dizer: “Que devemos fazer, visto que este homem realiza muitos sinais? Se o deixarmos assim, todos depositarão fé nele, e virão os romanos e tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação.
O Sinédrio encarava Jesus como uma ameaça às autoridades religiosas e à ordem pública, que Pilatos considerava ser de responsabilidade dessas autoridades. Qualquer movimento popular que os romanos talvez encarassem como sedicioso poderia levá-los a intervir na gestão dos judeus, algo que o Sinédrio queria evitar a qualquer custo.
Jesus e seus apóstolos celebraram a Páscoa judaica na forma da Última Ceia, Ele foi traído por Judas Iscariotes, cooptado pelos sumos sacerdotes em troca de pagamento, sendo preso no Jardim de Getsêmani. Jesus então é levado à casa do sumo-sacerdote, onde ele é zombado e surrado. Ele permanece quieto no geral, sem apresentar uma defesa e raramente respondendo às acusações, terminando condenado pelas autoridades judaicas quando ele se recusa a negar ser o Filho de Deus.
Os líderes judeus então o levam para Poncio Pilatos, e pedem-lhe que decrete a pena de morte sobre Jesus sob a alegação de que ele seria o rei dos judeus. Um primeiro julgamento ocorreu de maneira informal, numa quinta à noite, em seguida Ele foi castigado com chibatadas e, novamente, na sexta de manhã, no ano 33 d.C., onde foi julgado perante o povo que deveria escolher entre Ele e Barrabás para ser perdoado. O povo escolheu Barrabás como nos conta a história..
Cláudia Prócula fez diversas gestões junto a Pilatos em favor do Profeta, mas este lhe disse que nada poderia fazer e que teria que obedecer as leis.
Ela mandou dizer a Pilatos: "Não condenes esse justo, porque muito sofri hoje em sonhos por causa d'Ele. A alma dela angustiou-se ao pensar qual o destino que seria dado a Jesus. A resposta dos membros do sinédrio a Pilatos sobre o sonho de Cláudia era para eles, a confirmação de que Jesus era um mago. Jesus Cristo teria enviado uma mensagem em sonho a Cláudia, o que fez os membros do Sinédrio reforçarem a acusação de bruxaria contra ele.
Jesus Cristo, julgado e espancado, foi condenado a crucificação.



Capitulo Sete – Cláudia Prócula

Cláudia Prócula,  esposa de Poncio Pilatos era uma mulher especial. Quieta, vivendo à sombra do marido, mas era atuante em dar conselhos a ele nas questões sociais.
Cláudia Prócula era oriunda da Gália e adquiriu a cidadania romana, de pleno direito, ao contrair matrimônio com Pilatos. Era neta do imperador Augusto e filha ilegítima de Cláudia, a terceira esposa do imperador Tibério. Cláudia acompanhou Pilatos à Palestina, desde os primeiros momentos; algo que era vedado pela "Lex Oppia ".
Interessou-se pela religião judaica. Ouviu falar de Jesus e ficou interessada em sua doutrina, através das pregações de João Batista. Conta-se que foi o Centurião de Cafarnaum quem falou pela primeira vez de Jesus a ela.
Deus a escolheu para que, em sonho soubesse que Jesus era Seu Filho, o Messias. Cláudia acreditou em Deus, e depois da crucificação, converteu-se e cooperou com os cristãos, com São Paulo em Roma e com os apóstolos na Palestina. E foi essencial para o relacionamento de Lucius e Miriam.
Pilatos teria prometido a Cláudia que não condenaria Jesus.  Mas usou a famosa escolha do povo por Barrabás para dizer a ela que a escolha não foi dele, mas do povo judeu.
Quando Jesus foi traído por Judas, no Jardim de Getsêmani, Lucius e Miriam estavam lá, ouvindo o mestre. Quando os soldados romanos prenderam Jesus, alguns de seus seguidores reagiram, enfrentando os soldados, e um deles foi Lucius. Sem pensar, Lucius atacou um soldado romano e este que carregava um “pilum”, que era uma lança com ponta de ferro a cabo de madeira, bateu-lhe com o cabo no rosto desacordando-o momentaneamente.
Lucius foi levado junto com alguns peregrinos que reagiram à prisão do Mestre, e Miriam, desesperada foi correndo falar com Cláudia.
Cláudia foi imediatamente falar com Pilatos sobre a prisão de Lucius. Pilatos mandou chamar Lísias, comandante dos romanos para saber da prisão de Lucius. Informou a este que Lucius na verdade era um senador romano que estava infiltrado no meio dos judeus para investigar o Profeta. Lísias, então mandou soltar Lucius.
Mas, o centurião Pompeu que prendeu Lucius, achou que este havia sido muito contundente na defesa do Profeta, e que isso era indigno para um romano, principalmente sendo senador. Mas, como soldado obedeceu a ordem do Comandante Lísias e soltou Lucius, que havia sido espancado na prisão, pois ninguém sabia da sua condição de romano.
Miriam estava esperando por ele fora da prisão, e levou-o à sua casa para tratar de seus ferimentos. Lá já estavam Cláudia Prócula e Ruth, prontas para ajudá-la. Lucius contou a elas o que aconteceu ao Mestre na prisão. O que as deixou horrorizadas.


Capitulo Oito – A Prisão

Lucius contou o que viu: Jesus é despido de suas roupas, suas mãos amarradas acima de sua cabeça a um poste, o soldado romano dá um passo a frente com o flagrum (açoite) em sua mão. Este é um chicote com várias tiras pesadas de couro com duas pequenas bolas de chumbo amarradas nas pontas de cada tira. O pesado chicote é batido com toda força contra os ombros, costas e pernas de Jesus. Primeiramente as pesadas tiras de couro cortam apenas a pele.
Então, conforme as chicotadas continuam, elas cortam os tecidos debaixo da pele, rompendo as veias da pele causando marcas de sangue, e finalmente, Jesus está coberto de sangue e agonizando em dor.   As pequenas bolas de chumbo primeiramente produzem grandes e profundos hematomas que se rompem com as subsequentes chicotadas.
Finalmente, a pele das costas está pendurada em tiras e toda a área está em uma irreconhecível massa de tecido ensanguentado, quando é determinado pelo centurião responsável que o prisioneiro está a beira da morte, então o espancamento é encerrado. A lei judaica, não permitia que um preso levasse mais do que quarenta chicotadas, e isso pode parecer bom, mas, levando em conta que aquele chicote de couro tinha doze pontas, chegaríamos facilmente à conclusão de que Jesus levou cerca de 480 cortes de couro no seu corpo.
Então, Jesus quase desmaiando é desamarrado, e lhe é permitido cair no pavimento de pedra, molhado com seu próprio sangue. Os soldados romanos vêm uma grande piada neste judeu que se dizia ser o rei. Eles atiram um manto sobre os seus ombros e colocam um pau em suas mãos como se fosse um cetro. Eles ainda precisam de uma coroa para completar a cena.
Um pequeno galho flexível coberto de longos espinhos é enrolado em forma de uma coroa e pressionado sobre sua cabeça. Novamente, há uma intensa hemorragia. Após zombarem dele e baterem em sua face, tiram o pau de suas mãos e batem na sua cabeça fazendo com que os espinhos se aprofundem em sua fronte. Finalmente, cansados daquele sádico esporte, cessam por um instante os espancamentos e retiram o manto de suas costas.
O manto já havia aderido ao sangue e grudado nas feridas. Sua retirada causa uma dor torturante. As feridas se abrem novamente e voltam a sangrar como se ele estivesse apanhando outra vez. Desfalecido, quase morto, ele é jogado na cela junto com os demais prisioneiros. Lucius se adianta, tenta tirar aquela coroa de espinhos dele, mas é impedido por um soldado que lhe dá uma pancada na cabeça. Antes de perder os sentidos, Lucius ouve o Mestre soluçar e implorar: “Pai, me ajude”.
Nesse momento, Lucius começa a soluçar e as mulheres o acompanham, pensando no sofrimento imposto àquele Homem puro e inocente.


Capitulo Nove – Fim da Profecia

Lucius e Miriam, chocados, acompanharam a via sacra de Jesus da prisão ao Gólgota, onde foi crucificado. Acompanharam, aos prantos como muitos que ali estavam, sua agonia carregando a cruz. Os romanos tinham pressa de chegar ao cimo do morro, mas Jesus debilitado pelo espancamento, só se arrastava. Então os soldados obrigaram um homem a ajuda-lo a carregar a cruz.
Foi Simão, o Cireneu. Simão era natural de Cirene, uma cidade em local dominado pelos gregos na época, onde hoje é a Líbia. Jesus foi pregado pelos pulsos e pelos pés sobrepostos, um sobre o outro e ali ficou agonizando. De repente, ele olhou para a mãe e disse: “Está consumado”. Naquele momento, um arrepio percorreu a multidão, todos se calaram, caiu um silencio assombroso sobre o Gólgota. Nem um pio de pássaro, nem um latido de cão, nada. As pessoas que ali estavam quase não respiravam, os soldados que estavam jogando cartas sobre uma pedra, dando gargalhadas, sentiram o silencio e ficaram com medo, pois se dizia que aquele homem era um bruxo. Sua mãe Maria, rompeu o silêncio com um choro tão dolorido como só as mães em sofrimento são capazes de dar.
Quando um crucificado demorava a morrer, os romanos quebravam-lhe as pernas para agilizar o processo. Quando iam quebrar as pernas de Jesus, viram que ele já estava morto e para ter certeza disso o soldado Longinus, espetou a lança em seu peito, o que provocou um grande sangramento, mas evidenciando sua morte. Cumpria-se assim a Palavra de Deus, profetizada muitos anos antes de Cristo nascer e que determinava a vinda de seu filho, como homem para nos salvar !
Lucius e Miriam abraçados, em prantos, se retiraram dali e foram para a casa dela. Cláudia Prócula estava lá com Ruth, e as duas quiseram saber o que tinha acontecido, todos os detalhes, e eles contaram. Levi chegou logo depois, muito satisfeito pois as ameaças aos negócios cessavam com a morte do Profeta que agitou o povo e foi conversar com o governador a respeito.
Depois de uns dias, Lucius precisava voltar a Roma, fazer seu relatório e assumir sua cadeira no senado, pois seu tio estava muito doente e ia se afastar. Antes de partir pediu Miriam em casamento e Levi ficou honrado que um senador romano ia ser seu genro e anteviu as oportunidades que teria, dali para a frente nos negócios.
Casariam segundo os costumes da terra e como precisavam da autorização de Roma para um senador poder casar e essa ia demorar muito para chegar, pois teriam que mandar um mensageiro pedir autorização ao senado e esperar sua volta. Foi aí que Cláudia agiu, dizendo a Pilatos: “você, meu marido é o representante de Roma por aqui, você pode autorizar o casamento”. Pilatos autorizou e eles casaram, com as bênçãos de Cláudia Prócula e Ruth e foram juntos para Roma, onde dedicaram suas vidas a fazer o bem e ajudar a quem precisasse, qualquer que fosse sua crença, sempre lembrando das palavras que ouviram do Mestre quando iam vê-lo pregar.


Relatório do senador Lucius Petronius ao Senado Romano

Eis aqui o resultado da observação que fiz
na Judeia, conforme orientação desse Senado.

O Profeta

Ele nasceu em Belém, na Judeia, filho de um carpinteiro e uma dona de casa. Foi um Homem de estranho poder, cujo verdadeiro nome é Jesus Cristo, mas a quem o povo chamava "O Profeta" e, seus discípulos, "O Filho de Deus". Contam-se dele grandes prodígios: ressuscitar os mortos, curar todas as enfermidades e traz assombrada toda Jerusalém com a sua extraordinária doutrina.
É um homem alto e de majestosa aparência; sua face, ao mesmo tempo severa e doce, inspira respeito e amor a quem a vê. Seu cabelo é da cor do vinho e desce ondulado sobre os ombros; é dividido ao meio, ao estilo nazareno. Sua fronte, pura e altiva, sua cútis pálida e límpida; a boca e o nariz são perfeitos; a barba é abundante e da mesma cor dos cabelos; as mãos, finas e compridas; os braços, de uma graça encantadora; os olhos azuis, plácidos e brilhantes.. É grave, comedido e sóbrio em seus discursos. Repreendendo e condenando, é terrível; instruindo e exortando, sua palavra é doce e acariciadora.. Ninguém o viu rir, mas muitos o têm visto chorar. Caminha com os pés descalços e a cabeça descoberta. Vendo-o à distância, há quem o despreze, mas em sua presença não há quem não estremeça com profundo respeito. Quantos se acercam dele, dizem haver recebido enormes benefícios, mas há quem o acuse de ser um perigo para Vossa Majestade, porque afirma publicamente que os reis e os escravos são todos iguais perante Deus.. Uma frase resumiu o que ele pensa: “dai a Cesar o que é de Cesar e dai a Deus o que é de Deus”. Como se vê ele não é contra o Império. Eu particularmente não vi nenhum perigo ao Império por parte dele. A meu ver cometeu-se uma grande injustiça contra esse Homem. Espero que a história venha a redimi-lo um dia !

Lucius Petronius
Senador Romano
Ave Cesar.!
FIM

[João Libero]


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