A Dama da
Noite
Capítulo
Um - Cachorro Louco
Meu nome
é Jackson Cardoso. Voce precisa saber um pouco de mim para entender alguns
acontecimentos futuros. Sou jornalista freelance. Tenho 45 anos, mas sou um
homem relativamente forte e com 1,82m de altura. Ainda tenho uma boa cabeleira
e sou inteligente o suficiente para sobreviver neste mundo.
Servi na
marinha meu tempo de serviço militar e como era muito forte e lutava MMA como
amador, fui convidado a fazer carreira na marinha. Cheguei a ser campeão de MMA
na minha categoria nos campeonatos entre marinha, exército e aeronáutica. Era
conhecido com Jack Cachorro Louco, pois eu era assustador dentro do octógono,
mesmo sendo muito amável fora dele. Cheguei ao posto de tenente.
Um dia
por ter agredido um coronel do exército que assediava uma colega da marinha,
também tenente, durante uma confraternização, fui punido e não concordando com
aquilo, pedi baixa. Me dediquei a minha carreira de lutador de MMA, ganhei um
bom dinheiro nisso por um tempo. Prestei um concurso e ingressei na Policia
Federal, e fui designado a trabalhar na zona do cais do porto de Santos pelo
conhecimento que eu tinha por ter sido marinheiro, e mesmo faltando muito por
causa do trabalho, conclui o curso de jornalismo, meu sonho!
Fui ferido
gravemente em uma apreensão de drogas e cheguei a conclusão que não queria
morrer assim. Saí da PF, deixei bons amigos lá, mas continuei na zona do cais,
à cata de histórias, as quais vendo aos jornais e revistas que eu tenho contato
em S. Paulo e no Rio de Janeiro. Um dia quem sabe, eu escrevo um livro!
Não sou
rico, mas tenho um pequeno apartamento no Embaré, em Santos, de frente para o
mar. Durante o dia, durmo e escrevo minhas histórias e artigos para os jornais,
e à noite saio a perambular pelos bares e casas noturnas da zona do cais à cata
de histórias. Lá eu sou o Jack Cachorro Louco!
Eu a
conheci uma noite dessas em uma casa frequentada por maioria de marinheiros
estrangeiros, que pagavam suas contas em dólares e euros. Iam também alguns capitães
de navio e imediatos e poucos de navios de passageiros. E alguns poucos
oficiais da marinha. A maioria eram homens rudes, geralmente sem cultura e que
passavam no mar a maior parte do ano.
Ela
destoava do local. Era uma mulher linda, morena, de olhos verdes, cabelos
castanhos, corpo escultural, extremamente educada, culta e...prostituta!
Ia com
qualquer um que pagasse seu preço, que era bem alto. Somente os capitães,
oficiais, imediatos e muito poucos marinheiros, que tinham condições de pagar
seu preço e a procuravam.
Era
respeitada e temidas, pois andava armada com um canivete de mola e sabia com o
usá-lo. Alguns marinheiros mais abusados tinham ferimentos dolorosos para se
lembrarem dela.
Era
conhecida como Gigi, A Dama da Noite, pelo seu refinamento. Seu nome era
Virginia, mas, isso eu descobri muito mais tarde, bem como sua história que vou
contar para vocês a partir de agora!
Capítulo
dois – Urso
Ele era
um tipo único! Devia pesar perto de 200 kg, de puro músculo tinha uns 2,20m de
altura. Desde adolescente fora estivador, onde adquiriu os músculos poderosos
que tinha. Era extremamente respeitado, todos o temiam, menos eu, que acabei me
tornando seu amigo pessoal e sim, ela, a Dama da Noite, que não tinha medo de
ninguém e a quem ele amava secretamente.
Seu nome
era José Carlos dos Santos, mas, quase ninguém sabia disso, desde adolescente
era chamado de Urso, pois parecia mesmo um urso pelo tamanho. Morava com a mãe
em um apartamento em cima de um galpão onde ele tinha uma pequena
transportadora, com um caminhão baú, uma van e uma caminhonete. Todos em
situação precária, que ele mesmo fazia manutenção. Tinha dois funcionários que
remunerava mal e a mãe auxiliava no que podia atendendo telefone, dando
desculpas quando ele falhava uma entrega por estar bêbado ou drogado.
A noite
ia aos bares na esperança de ver sua amada, e quando a via sair com algum
homem, sabendo o que eles iam fazer, seu coração sangrava e ele bebia ou se
drogava e arrumava confusão. Várias vezes eu ia no DP liberá-lo e leva-lo para
casa. O delegado era meu amigo e fazia vista grossa para isso, pois quando
estava sóbrio Urso era uma excelente pessoa e trabalhador. Uma vez a viu com o rosto machucado, e uma
adas amigas dela falou que foi o capitão de um navio norueguês que estava
ancorado no porto que saia com as mulheres e as espancava, ele gostava disso e
pagava bem. Ele descobriu quem era foi atrás dele por várias noites de bar em
bar, e quando o encontrou quase matou o sujeito na surra que lhe deu. Os amigos
encobriram e o capitão com medo não saiu mais do seu navio e nem prestou
queixa.
Sua noite
ficava iluminada quando ela não estava afim de trabalhar e sentava em sua mesa
e pedia: “Zequinha, pega alguma coisa gelada pra Gigi vai”. Ele sorria como uma
criança que ganhou um doce e corria pegar o que ela queria. Só ela podia
chama-lo de Zequinha, mais ninguém. Ou era Urso para a maioria ou Zecão para os
amigos mais chegados.
Um dia
ele ouviu uma conversa dela com uma amiga e ela dizia: “ o homem que quiser casar comigo, tem que
ser limpo, sóbrio e trabalhador. Estou cheia de conviver com homens sujos,
suados, bêbados, drogados e vagabundos. Veja o Zequinha, é um doce, mas vive
chapado ou bêbado e sempre arrumando confusão. O que um homem desse quer na
vida? Só dá preocupação para a coitada da mãe! Gosto dele, mas...
O Jackson
parece ser um homem inteligente culto, nunca falei com ele, mas, parece que não
quer nada da vida, curte uma dor de cotovelo eterna, vive de bar em bar bebendo
... E tem aquele capitão da fragata Almirante Aguiar, o Afonso! Lindo,
cheiroso, gostoso, sempre que vinha aqui me procurava e eu achei que ele
gostava de mim, mas um dia que fui com ele e disse que o amava o filho da puta
falou: dispenso, amor de puta não quero!
Homem não vale nada se você quer saber! Pior que eu ainda amo esse safado! ”
Aquelas
palavras calaram fundo em sua alma e foi a noite em que ele soltou todos os
seus demônios e foi assustador!! Foi de bar em bar, bebendo, quebrando tudo e
todos que se punham a sua frente, até que alguém lhe deu tantas facadas que o
mandou para a UTI. Ficou meses fora da noite e por um bom tempo não se falou
mais nele.
Capítulo três - Noite de terror!
Urso me contou tudo isso, quando fui busca-lo no hospital, a pedido da
sua mãe, dona Conceição. Ela me procurou uns dias depois que o filho foi ferido
e me pediu ajuda na transportadora, pois ela não poderia fazer tudo sozinha.
Como eu tenho muito tempo livre, eu fui a fiquei uns meses por lá. Consegui
alguns clientes novos, o que deu para melhorar a frota. Depois disso, ficamos
muito amigos e dona Conceição praticamente me “adotou”.
O que Urso me contou da Gigi, me deixou interessado em saber a história
dessa mulher. Uma noite que o movimento estava fraco para seu trabalho,
convidei-a para ir ao meu apartamento. Ela aceitou, talvez por curiosidade.
Estávamos tomando um vinho e eu falei: “Gigi, sou escritor e jornalista
e queria saber sua história. Eu uso as histórias reais que ouço ou conheço e as
romanceio de tal forma que só o dono da história, às vezes, sabe que estou
falando dele. Voce topa me contar? ” Sim, nessa condição, sim!
E ela me contou nessa noite sua triste história.
Era de uma família tradicional da elite paulistana. Seu bisavô materno
tinha sido uma espécie de conde na Itália e seu avô veio ao Brasil onde fundou
uma fábrica de massas muito conhecida. Do lado paterno, o avô que era português
começou uma rede de supermercados que o seu pai ampliou a nível nacional.
Seu nome completo era Virginia Carmela Girotto Braga. Morava com a mãe
Cinzia, o pai Jose Luiz e o tio Augusto, irmão mais novo do pai, solteiro.
Estudou nos colégios mais tradicionais de S. Paulo, sabia falar inglês, francês
e espanhol. Estava preparada para ir estudar no exterior. Terminara a faculdade
de Economia e de Administração e Comércio Exterior. Iria fazer mestrado e
doutorado na Inglaterra.
Uma madrugada, depois do encontro com o namorado, ao entrar em casa, o
tio estava com alguns amigos festejando alguma coisa, aproveitando que seus
pais não estavam em casa, tinham ido a um evento em Campinas. Passou pela sala
rapidamente, dando um oi geral e subiu para seu quarto, uma vez que os amigos
do tio eram apenas seus conhecidos. Aos poucos percebeu que a conversa foi
diminuindo e que a casa foi ficando silenciosa. Virginia ficou um tempo nas
redes sociais e adormeceu logo.
Acordou com o tio e dois amigos dele no seu quarto.
Eles a agarraram, ela lutou em vão, eles eram mais fortes e estavam
drogados. A última lembrança que teve antes do pesadelo que passou foi quando
um dos amigos do tio disse: Guga, você não vai botar camisinha cara? ” E a
resposta do tio: “camisinha o cacete”. Depois disso foi uma noite de terror que
não vou descrever por ser muito pessoal e não vou expô-la a isso.
Ela ficou de cama uns dias, com os pais preocupados com ela, teve febre,
vomitava toda hora, não quis ver ninguém, nem o namorado. Quando melhorou um
pouco e estava tomando sol, enrolada num edredom na beira da piscina o tio a
procurou e disse, se você falar alguma coisa para o seu pai ou a sua mãe eles vão
ter um infarto e a culpa será sua. O que você achou que ia acontecer com você?
Vive desfilando de biquíni na frente dos meus amigos na piscina. Voce procurou
isso.
Voce nem era mais virgem!! Se você contar, vou falar que você que propôs
a festinha e ficou mal pois bebeu e cheirou demais!! E ela se calou, de
vergonha, de culpa, de nojo, de medo...Nove meses depois ela teve uma menina
forte e linda, Suzana, que ela tinha certeza que era do tio, pois ouviu que ele
não usara camisinha durante o estupro. A única pessoa que sabia de tudo era sua
antiga babá, Maria de Lurdes, a quem chamavam de Malú e que ainda tinha contato
com a família e morava em um apartamento dado por seu pai, em um prédio
próximo.
Malú a ajudou a suportar tudo o que passou e contornar a situação com os
pais quando descobriram a gravidez. Ela nunca falou quem era o pai, e eles
achavam que era o antigo namorado que fora para o exterior, mas ela disse que
não e eles não podiam fazer nada, ela era maior de idade.
Um dia o tio chegou bêbado e drogado e quis ver a menina. Ela não
permitiu, brigaram e com a gritaria os pais vieram ver o que acontecia. O tio
falou: “essa putinha não quer me deixar ver minha filha, eu sei que é minha! ”
Os pais ficaram chocados e quando no dia seguinte o tio estava sóbrio e
apertado pelos pais contou que Virginia vivia provocando ele e uma noite
seduziu ele quando os pais estavam fora!
Diante disso e da reação dos pais que a culpavam, ela resolveu sair de
casa.
Ela vendeu todas as suas joias, sacou todo o dinheiro da poupança que
tinha para ir para a Inglaterra, e ajudada por Malú foi para o interior de
Minas Gerais, na casa de uma irmã desta.
Capitulo quatro – Suzana
Virginia viveu um tempo em Minas, mas sem conseguir arrumar emprego e
com o dinheiro acabando, deixou a menina com Malú que não quis voltar a S.
Paulo. Malu queria pôr o apartamento a venda, mas Virginia não permitiu. Lá
morava a filha e o filho da Malú. A aposentadoria de Malú era pequena, mal dava
para pagar o aluguel de um pequeno apartamento e sobreviver. Virginia foi então
para Santos, para trabalhar com Comercio Exterior.
Arrumou uma pensão e tentou emprego na área, mas, a crise de desemprego
estava alta e ela não tinha experiencia comprovada e só conseguiu trabalho de
escrituraria e um de secretária, mas percebeu que era mais do que isso. Quando
estava ficando sem dinheiro para mandar para Malú, já devendo dois meses de
pensão, a dona da pensão falou que ela com a beleza e o corpo que tinha, devia
arrumar um homem que a sustentasse.
Virginia decidiu que homem nenhum a sustentaria e nem mandaria nela. Um
dia caminhando na praia, foi abordada por uma mulher muito refinada que começou
a caminhar com ela. Essa mulher tinha uma empresa de acompanhantes e garotas de
programa e convidou-a a trabalhar com ela. Seria totalmente livre e ganharia
muito dinheiro. Em pouco tempo ela morava em um belo apartamento, e trouxe Malú
e Suzana para morar com ela. Ficou conhecida e requisitada.
Em dois anos ela estava rica, pois tinha clientes milionários, alguns
deputados, senadores, juízes, empresários que vinham de S. Paulo, Brasília,
Rio, indicado pelos amigos. Ganhou joias, carros, apartamentos...
Seus pais, souberam da sua vida pelos filhos da Malú e queriam que ela
deixasse a neta com eles, mas ela não quis, pois eles acreditaram no tio e nem
aceitaram a explicação dela. Um dia recebeu uma intimação! Seus pais entraram
na justiça para terem a guarda da neta. Baseada na investigação de um detetive
particular contratado por eles, que tirou fotos dela em situações intimas com
diversos homens, uma juíza da vara da família, amiga da mãe dela, deu sentença
favorável aos seus pais, alegando que sua vida de prostituta não era um bom
exemplo para uma criança. Depois de muita discussão judicial, ela perdeu a
guarda da Suzana para os pais, mas conseguiu que a sentença incluísse uma
clausula que permitia que Malú ficasse como babá da menina, pois esta já estava
acostumada com a babá.
Virginia, que queria reaver a filha, vendeu quase tudo que tinha e
conseguiu ir para Inglaterra para fazer o mestrado e o doutorado que lhe daria
condições de ter um ótimo emprego e poder brigar pela filha. Depois de um ano,
veio de férias para ver a filha, mas, teve uma grande surpresa, Malu sofrera um
AVC e não pode mais ser babá da menina. Os pais alegaram na justiça que ela
abandonou a filha e ela foi impedida de visitar a menina. Ficou louca, invadiu
a casa dos pais um dia e exigiu ver a filha. O tio havia morrido de infarto no
ano anterior, antes da filha ter ido morar lá. A mãe disse que eles tinham
colocado a menina em um internato e que não tinham que dar satisfação nenhuma a
ela. Virginia tentou de todos os meios legais que tinha direito, apelou para a
mãe, em vão, esta não abriu mão.
Revoltada voltou para Santos, e desistiu de tudo. Foi assim que foi
parar na zona do cais. Comovido com sua história, prometi que ia fazer de tudo
para ajudá-la, inicialmente tentando localizar o internato onde estava a filha.
Capitulo cinco – O retorno de Urso
Tinha passado alguns meses, desde a saída de Urso do hospital e de
quando Virginia me contou sua saga. Eu tinha escrito um romance baseado nas
histórias que compilei nas noites na zona do cais e depois da tarde de
autógrafos que minha editora proporcionou em S. Paulo, contatei um hacker que
conhecia e pedi para ele procurar Suzana, invadindo celulares e computadores
dos pais da Virginia. Eu não queria saber nada de pessoal deles, mas, sim o
paradeiro de Suzana, deixei isto bem claro.
Urso tinha entregas a fazer lá e me ofereceu carona. Como não tínhamos
quase conversado depois que ele saiu do hospital, eu gostei da ideia de viajar
com ele. Ele estava diferente. Largou a bebida e a droga. Encarou seriamente a
empresa e estava indo relativamente bem. Emagrecera um pouco e com isso parecia
mais musculosos ainda. Disse que ia dar uma guinada importante na vida e tinha
certeza que eu iria aprovar. Contei a
ele a história de Virginia e eu vi este homem, capaz de carregar dois sacos de
arroz de 60 kg, um embaixo de cada braço, enfrentar 10 marinheiros fortíssimos
e dar uma surra nos dez, repito, eu vi esse homem parar o caminhão colocar a
mão no rosto e chorar, repetindo: “coitadinha, coitadinha”. Fiquei tão comovido
que chorei junto com ele. Voltei para as noites do cais e encontrei Virginia
abatidíssima, magra e triste. Estava tão depressiva que até seus clientes não a
procuravam mais. Ela nem ligava para isso, ainda tinha muito dinheiro. O bar já
estava lotado e eu estava contando para ela sobre o encontro com o hacker, e
ela se animou com a notícia. Conversamos e eu disse que ela deveria pensar em
casar para assim poder brigar pela guarda da filha, pois Vara de Família daria
preferência para a mãe, desde que ela tivesse uma vida estável.
De repente um silencio anormal envolveu o ambiente. Virginia que estava
de frente para o salão exclamou: “meu Deus!!”. Olhei para ver o motivo de todo
aquele silencio e da exclamação da Virginia e vi uma coisa inusitada: o
gigantesco humano que conhecemos por Urso, vinha vindo em nossa direção, limpo,
cabelo cortado, barba feita, espantosamente usando um terno, impecavelmente bem
feito, sapatos brilhando e um buquê de orquídeas brancas.
Parou na frente do balcão onde estávamos eu e Virginia. Esta, surpresa
levantou-se e Urso, cavalheirescamente ajoelhou-se e no silencio do bar, seu
vozeirão ribombou: “Virginia Braga, você quer casar comigo? ”. Todos prendemos
a respiração, o silencio até incomodava. Virginia com os olhos arregalados e
olhando aquele gigante ajoelhado a seus pés, e mesmo assim as cabeças deles
ficavam na mesma altura, deu um grito e ficou de pé, olhou Urso que levantara,
jogou-se no pescoço dele, se agarrou a ele como uma criança se agarra ao pai
que é muito maior que ela, começou a chorar dizendo repetidamente: “sim, sim,
sim Zequinha, eu quero, sim”.
Foi um pandemônio naquele bar. Todo mundo gritava, as mulheres dançavam
abraçadas, rindo e chorando, afinal não era sempre que uma puta conseguia
casar! Urso virou para o português dono do bar e disse: “seu Manoel, uma rodada
para todo mundo, eu pago! ”
Olhou para mim e disse: “ Jack Cachorro Louco, você vai ser o padrinho”!
Capitulo Seis – Família
Urso sabia que Virginia não o amava, e que casara com ele para reaver a
filha, mas, ele dizia que amava pelos dois e Virginia tinha muito carinho por
ele e queria ajudá-la a reaver a filha. Era estranho ver aquele homem
gigantesco, apesar de bonito, ao lado daquela mulher pequenina, linda e
refinada. E ela o dominava com facilidade, pois Urso fazia tudo que ela queria
e sempre de bom humor. Virginia administrou a transportadora com todo
conhecimento que tinha dos estudos e em pouco tempo eles tinham caminhões
novos, construíram um galpão novo e aumentaram a clientela.
Enquanto isso, o hacker me deu um monte de informações sobre Suzana.
Descobriu que ela estava em um internato para meninas perto de Florianópolis,
frequentado por crianças de famílias de posses. Já fazia quase três anos que
Virginia não via a filha. Resolvi fazer algo a respeito de toda essa encrenca.
Eu conhecia a advogada da editora, Dra. Carina e comentei com ela a situação de
Suzana e ela se interessou.
Seu doutorado foi exatamente sobre Direito de Família. Levei-a para
falar com Virginia, e Urso disse que ela fizesse tudo que fosse preciso para
trazer de volta a filha de Virginia, e que gastasse o que fosse necessário para
isso. Teve início uma batalha judicial, que só teve fim quando a advogada
conseguiu levar o processo para ser julgado em Florianópolis.
Ela alegou que o processo estava contaminado, e provou o conflito de
interesses entre os pais de Virginia e a juíza que estava julgando o caso em S.
Paulo. Ela morava em uma cobertura pertencente ao casal e pagava um aluguel
simbólico, bem baixo e eram colegas de clube e os pais de Virginia eram
padrinhos de casamento de um filho da juíza.
Em Florianópolis, a dra. Carina mostrou a mudança de vida de Virginia,
seu casamento e contou com a declaração de Urso que estava entrando com um
processo para adotar Suzana. Além disso demonstrou o desamor dos avós, pois
eles não estavam criando a menina. Eles a tiraram da mãe e a internaram! O juiz
determinou que uma pessoa designada pela mãe fosse fazer uma visita à filha,
para ver as condições em que vivia.
Virginia me pediu para ser essa pessoa. Fomos, eu e Carina, até o
internato. Era uma fazenda, com um casarão imponente, com um gramado muito bem
cuidado, uma área de lazer, um miniginásio, biblioteca, sala de informática e
de tv e diversas salas de aula. Suzana tinha sete anos e era uma menina meiga,
de cabelos castanhos cacheados e olhos iguais aos da mãe. Acompanhava-nos uma
assistente social que já conhecia Suzana desde o início do processo, e que
tinha ido antes e contado para a menina que sua mãe casara e estava pedindo ao
juiz para deixar que ela voltasse para a casa da sua mãe e seu novo pai.
. Quando entramos na sala, ela veio correndo, me abraçou e disse, “você
é meu papai? ” . Eu falei, “não querida eu sou o tio Jackson! “
Essa menina meiga e sofrida, me olhou bem dentro dos olhos, como sua mãe
costumava fazer, e me perguntou: “você vai me levar para minha mãe? Cadê a tia
Malú, não veio? ”
Conversei com ela e tentei explicar da melhor maneira possível a
situação. Ela era uma menina inteligente e creio que entendeu. Quando nos
despedimos ela me abraçou e falou: “tio Jackson fale para minha mãe que estou
com saudades dela. ” Quando voltei ao hotel, expliquei para Virginia que o
internato era ótimo e que Suzana estava bem cuidada, e mandou dizer que estava
com saudades dela. Essa noite Virgínia chorou muito, conforme me contou Urso na
manhã seguinte. Depois que Virginia disse ao juiz que estava tudo bem em
relação ao internato, e ela não ia apresentar nenhuma queixa.
O juiz determinou então que a menina fosse entregue à mãe e ao futuro
pai. Os pais de Virginia resolveram acatar e não recorrer mais.
Eu fui designado pelo juiz para acompanhar a psicóloga da Vara da
Família até o internato e trazer a menina. Urso e Virginia deveriam ficar em
Florianópolis.
Fomos no dia seguinte à sentença.
Suzana nos esperava, pois assim que chegamos ao internato a psicóloga avisou
a assistência social que já estava com a menina na sala de visitas.
Estava arrumadinha, com uma malinha e tudo. A diretora da instituição se
despediu dela e pediu para dizermos a Virginia que elas sempre mantiveram a
memória da mãe viva na menina e se um dia Suzana quiser visitar o internato, as
portas estão abertas para ela.
O reencontro das duas foi um acontecimento! Choraram muito, se agarraram
felizes. Quando ela viu Urso, arregalou os olhos e falou: “esse gigante é o meu
papai? Oba!!” Foi uma festa a volta para casa!
Estive fora por quase um ano, para divulgação de meu livro em Portugal e
Espanha. Quando voltei, Virginia estava grávida do Urso. E Suzana disse que ia
ganhar um Ursinho de presente! Ela ia ter um menino e ia pôr o nome de Jacson e
queria que eu fosse o padrinho, pois graças a mim ela reencontrou a filha.
Suzana adorava o paizão dela e a avó adotiva. Eu voltei a frequentar a noite
para ver se acho uma nova Dama da Noite para contar sua história!.
[João Libero]
2010
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