O Lobisomem
Boa Tarde amigos ouvintes. Esta é
a Rádio Virtual de São Pedro dos Patos, a rádio que só noticia fatos! Aqui fala
Jatir Marques, são 18 horas e esta é a Hora do Espanto, que sempre traz uma
reportagem externa de um assunto relevante e estranho.
Como já foi noticiado nas rádios
e tevês da região, apareceu um lobisomem no vilarejo de Água Santa, e a Rádio
Virtual não poderia deixar de investigar. Para isso foi mandada uma equipe de
reportagem, chefiada pelo experiente repórter Joel Pereira, com técnicos de
som, fotógrafos e cinegrafistas, da nossa TV Virtual e do Jornal Virtual. Lá entrevistaram o senhor Juvenal Vieira que
nos relatou essa história impressionante! É verdade? Não é? Julguem vocês
mesmos após ouvirem o senhor Juvenal. Esta reportagem será mostrada ainda hoje
no Jornal das Dez na TV Virtual.
Vamos aos fatos!
Boa noite Joel, você está com o
senhor Juvenal aí, certo? Estamos ao vivo na Hora do Espanto. Boa noite senhor
Juvenal, seja bem-vindo ao nosso programa. A partir de agora os amigos ouvintes
e telespectadores, ficam com o Joel Pereira entrevistando o senhor Juvenal
Vieira de Água Santa.
Boa noite Jatir, boa noite a
todos. Estou aqui com o seu Juvenal e decidimos que ele vai nos relatar essa impressionante história do
lobisomem de Água Santa, sem ser interrompido para ele não perder o fio da
meada!. Ouçam o relato!
- Tarde pessoar! Eu chamo Juvenar
Viera, fio do coronér Epitaço Viera e da dona Marvina Viera. Sô casado cuma
muié santa que se chama Maria! Já moro em Água Santa a munto tempo já. Liáis,
desde que nasci! Re,re,re...Mais, vamo no que interessa, né emo? A minina Cacirda, fia do coronér Inocenço, um
belo de um dia, apareceu de barriga, prenhe mesmo! Ah! Fartô gente pra vê o
coronér brabo! O bicho ficava vermeio iguar a língua do Totó quando lambe a
xoxota da cadelinha da dona Ditinha, re,re,re. O coronér ficô iguar possuído do
Sem Nome, cruiz credo.
Ele gritava: - eu vô mata o
fiadaputa que emprenho minha fia, vô corta o bagúio do tar e fazê ele comê! Já
pensô isso, seu Joer? Inté arrupiô os cabelo de iscuitá!
Mais, aí qua a coisa fedeu! Cacirdinha falô “pai, foi um
lubisome!” Cruiz credo, vai de reto! Nos
dia seguinte, apareceu mais muié falano que foi atacada pelo bicho peludo!
As muiérada nem num sai mais suzinha de
casa, de medo do tar lubisome!
Uma noite o bicho atacô o Arcide,
dono da farmácia! O que? Falaro...agora o bicho tá atacano inté os home? [pesar
que o Arcide nem num é home home, ceis intende né]. Pode falá isso seu Joer? O
policiamento correto num prende nóis? Tem certeza?
Intão nóis os home da vila,
formemo uma patrúia, pra morde guarda as muié desse tar de lubisome. Seu Joer
do Céu, vô conta procê, fico inté arrupiado de alembrá. Era sexta-fera, noite
limpinha, iguar minhas camisa quando Maria lava e coara. Nem num tinha uma nuve
no céu, só estrelinha alumiano e uma luona cheia, bunita. Lua de lubisome!
Despois de patrúiá, eu tô vortano pra casa, assucegado, filiz que tava vortano
pra abraçá Maria que já tava inté durmino acho.
Mais, quano passei
de debaxo da janela do meu quarto, aí Jesuiz, Maria e José, iscuitei a voiz de
Maria gemendo e falando sufocada: “ai,ai, não pára, vô morrê”, e uns ronco
iguar de um bicho estripado! Coisa medonha seu Joer!!
Sô home de corage, mais, vô falá, farto pôco pra mim sujá
nas carça. O tar já tava drento da minha casa, atacano a Maria. Jesuiz Cristo,
me ajude! Gritei: “ Maria, guenta firme fia, que já vô te sarvá”.
Entrei ca espingarda engatiada, pronto pra matá o
morrê! Entrei no quarto, vejo Maria quase pelada na cama e um vurto caído do
lado da cama Pontei a garrucha pro vurto que só estremilicava no chão e ia
atirá quando Maria [Õ muié santa] sartô na frente do cano e grito: “num atire
Juvenar, é o cumpadre Antenor!”
Fiquei abestado! O cumpadre Antenor era o lubisome! Mais ele
nem num tava peludo! Tava pelado, segurano os bagúio dele, cum medo que eu dava
um tiro e rancava inté o saco! Num
intendi mais nada! Intão Maria ixpricô, chorano, nervosa. Nunca havéra visto
Maria desse jeito! Coitada de Maria que susto que ela passô!
- Juvenar, o
cumpadre chegô de lubisome, me atacô, inté rasgo minha carcinha, óia
e me comeu! Uma, duas, treiz veiz, iguar um loco, mais,
quando ocê entrô, ele já
tava acabano e desvirô de lubisome pro cumpadre Antenor. O fiadaputa
estrupô
minha Maria! Quiria matá o desgramado, mais Maria me acarmô!
Ele é seu amigo
de criança home! Eu
falei prela:
- Maria, minha
santinha, o que nóis faiz? Se contá pro povo eles vai matá o cumpadre. Ô meu
Deus! Eu se lembro quando nóis era minino, o cumpadre foi mordido pelo cachorro
do Coronér Inocenço. Vaí vê o bicho infetô o cumpadre, por isso ele vira
lubisome! Só pode ser isso Maria. Maria que intendia das coisa [ela fez um ano
de escola na vila, um ano, já pensô!], falô: “é isso mesmo Juvenar, mais, óia,
o cumpadre tá acordano. Vamos cunversá coele e vê o que nóis faiz.”
Prendemo o
cumpadre Antenor no quartinho de visita [o bicho tava cos zóio arregalado e
respirano mar! Coitado do cumpadre, dava pena!] Ele tava cum medo que eu
atirava nele. E eu tava cum ódio do tar, purque ele atacô a muié mais dereita,
a mais santa desse mundo! Uma muié que nunca nem num fez mar pra ninguém, só
tinha zóio pra mim e agora tava agoniada cum tudo aquilo.
Chamamo o padre
Bento e contamo tudo prêle. Ele oiô pra Maria [achei esquisito o jeito que ele
oiô, mais, ele era o padre. Acho que padre óia assim mesmo, né?]. Mandô ela na
igreja notro dia, se confessá e fazê penitença coele.
Ficô arresorvido ansim: o padre falô co prefeito, que falô
co dotô delegado e reuniô o pessoar da vila na igreja e expricô que o cumpadre
Antenor era o lubisome. Tudo mundo queria pega o cumpadre e matá, mais o dotô
delegado num dexô! Ele falô:
- A dona Maria
pediu e nós decidimos deixar o Antenor na responsabilidade dela e do
Juvenal.Ele vai ficar preso no quarto e só vai sair pra ir no banheiro e quando
for o Juvenal vai atrás, de espingarda na mao, no caso do bicho virar lubisomem
de novo. Estou entrando em contato com uma universidade federal para levarem o
Antenor para estudo. Até eles decidirem, ele fica na responsabilidade da Maria
e do Juvenal e ninguém vai interferir nisso, ou vai preso! Estranho que ele falô isso rindo, mais acho
que dotô delegado acha graça em tudo né?
E anssim foi
feito. O lubisome ficô preso na minha casa. Seu Joer do céu, já tá fazeno mais
de ano que isso aconteceu e o lubisome inda tá lá im casa,
Coitada de Maria!! Quando o tar se transforma, [umas três
veiz por semana] e começa a uivá, eu fico intero arrupiado. Maria não [ô muié
santa], seu Joer. Maria se alevanta da cama e vai de camisola memo pro
quartinho e lá fica acarmando ele.
O bicho ronca,
geme e Maria, a pobre, acarma ele. Eu
iscuito ela falá [parece inté que ela chora de moção] “não para, não, agora,
agora, isso pronto, quietinho agora, devagar, isso, agora dorme”. E, por esse
zóio que a terra vai comê, seu Joer, o bicho se acarma. Dispois de quase uma
hora dessa agonia, Maria vorta pra cama cansada, o rosto vermeio e dorme na
hora. Num falei que é uma santa! Ela que
tá aguantano tudo! Quando será que eles vem busca o lubisome, hein seu Joer,
ocê sabe?
Assim termina a
história do lobisomem de Água Santa. Nosso repórter Joel Pereira tem mais
informação sobre o caso. Fala Joel:
- È o seguinte, a
Cacilda, filha do coronel Inocencio, teve um lindo bebê, chinês, que acabou por
contar que era filho do Chang, da loja de 1,99. O coronel obrigou Chang a casar
com Cacilda, na mira de um 38! As outras mulheres que disseram que foram
atacadas, não quiseram dar entrevista e o farmacêutico mudou para a capital. Quanto ao lobisomem, ainda vai ficar um tempo
na casa do Juvenal e da Maria!
Boa noite pessoal, boa noite Jatir. Joel Pereira direto de
Água Santa.
Aqui encerramos A
Hora do Espanto de hoje. Boa noite amigos ouvintes!
[João Libero]
10/04/2008]
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